quinta-feira, 21 de junho de 2012

Capítulo 2


II
2 de março de 2011 (parte 1)
Receber aquela mensagem, aquelas horas da noite, estava-me a deixar nervosa. Tinha medo de pegar no telemóvel, de como quando era criança, quando algo se escondia de baixo da cama e depois me pegava nos braços ou nas pernas. Num gesto muito rápido, lancei o meu braço até ao telemóvel e voltei-me a esconder entre os lençóis.
Os meus olhos estavam sensíveis e a luz forte do pequeno telemóvel impediu-me de ver durante uns segundos, semicerrei os olhos e passei com o dedo no ecrã para abrir a mensagem.
DE: sem número
MENSAGEM: “Nunca me esquecerei de ti! –SSS”

Uma lágrima escapou-me do olho, agora cheio de medo e assustado com aquela noite em Portugal, já não conseguia segurar as lágrimas que corriam pela minha cara a abaixo. As minhas mãos estavam frágeis e acabei por deixar cair o telemóvel sobre as almofadas, que o fizeram saltar e cair no chão, o simples barulho da sua queda, foi suficiente para me deixar ainda mais assustada. Não tinha reação para nada, não conseguia pensar em nada, nem mesmo naquela noite de verão, nem do nojo que sentia de mim mesma, nem das lágrimas frias a correrem pela minha face, o medo engoliu-me e deixou-me paralisada, sentia vontade de fechar os olhos, mas o medo de me virem á cabeça as imagens que me atormentaram durante estes anos, impediu-me de que o fizesse; era como se alguma força invisível me impedisse de reagir.
O tempo foi passando, estava cada vez a ficar mais fraca, a força do cansaço deitou-me abaixo e, deixei-me cair sobre os lenções de flores que pareciam abraçar-me e reconfortar-me no fim daquele, que parecia, um pesadelo.
***
O sol entrou pela janela e fui obrigada a abrir os olhos que há muito tempo, já estavam acordados.
Ainda sentia algum receio de pousar os pés descalços no tapete, mas havia uma força dentro de mim que queria parar o medo, não me queria deixar ir outra vez abaixo. Passei o olhar pelo meu quarto, em cima da cama estava o fio e no chão o telemóvel separado em varias partes, juntei-o e fui tomar um duche para ir ter com as raparigas ao café.
O sol quente da manha convidava as pessoas a tomarem o pequeno-almoço na esplanada. Entre as muitas mesas cheias, encontrei-as sentadas a conversar, com grandes sorrisos na cara, como se não tivesse acontecido nada.
Tânia: Bom dia. Estiveram muito tempo á minha espera?
Georgia: Não.
Tânia: Estão muito sorridentes!
Giovanna: Nem por isso, só consegui agora arrancar um sorriso da cara da Georgia.
Tânia: Porquê? O que se passa Georgia?
Giovanna: Oh, não ligues, foi um pesadelo!
Georgia: Sim… foi um pesadelo…
Consegui reparar nos pequenos olhares que trocaram antes de me responderem, estavam a mentir, algo se tinha passado com a Georgia e não era um pesadelo.
Tânia: A sério? Agora vocês não me vão contar nada? Vão deixar de confiar em mim?
Giovanna: É claro que não.
Tânia: Então, o que se passa? (a Georgia voltou a olhar para Gio, como se quisesse pedir permissão para falar. Impedi-a de fazer isso e perguntei-lhe diretamente) Georgia! Fala comigo, conta-me o que aconteceu!
Fomos interrompidas pela chegada do empregado com o nosso pedido.
Giovanna: Obrigada. (agradeceu lançando um sorriso falso ao empregado e, esperou que ele se virasse para continuar) A Georgia anda a fazer filmes, tal como tu. A sério, eu não vos percebo, prometemos todas que não íamos voltar a falar neste assunto e agora andam para ai com estas coisas porquê?
Georgia: Não são filme Gio! E só me estou a começar a preocupar porque ninguém sabia do assunto da minha mensagem, e para além disso, não sei quem a enviou!
Tânia: Espera lá, que mensagem?
Giovanna: Olha pronto…
Georgia: Não sei de quem é, não tem número, mas no fim está assinado com as letras “SSS”.
Tânia: “SSS”… Eu recebi uma também!
Georgia: O que é a tua dizia?
Tânia: “Nunca me esquecerei de ti”
Giovanna: Pode ser só uma brincadeira, sim?!
Georgia: Gio, é coincidência a mais!
Giovanna: Só vou entrar nesses vossos filmes quando tiver provas em concreto. (olhou para o relógio e fez uma cara de surpreendida) Agora tenho de ir que vou trabalhar. Beijinhos.
Deu-nos um beijo leve nas faces e seguiu a pé até ao carro.
Georgia: O que é que achas disto?
Tânia: Não sei, mas aconteceu-me mais… ontem acordei com um pesadelo e não me saia da cabeça uma imagem de uma criança e quando dou por mim, vejo aquele fio que eu perdi naquela noite em Portugal, em cima da minha mesinha de cabeceira.
Georgia: Se calhar não o perdes-te mesmo…
Tânia: Perdi! Mas mesmo assim, como é que um fio que eu tinha em Portugal, foi parar ao meu quarto em Londres.
Georgia: Então, se tens a certeza que não foste tu, quem foi? Alguém entrou em tua casa?
Tânia: Não sei, mas quem é que iria entrar, as janelas estavam todas fechadas, não havia sinais de arrombamento. E para além disso, como é que tinham o fio?
Georgia: Não sei, mas é estranho! Alguém tem a chave de tua casa?
Tânia: Ninguém!
Georgia: Liga á tua mãe a perguntar!
Tânia: Sim, é melhor. (peguei no telemóvel e rapidamente disquei o numero dela) Sim?! Estou, mãe, então tudo bem?
Lurdes: “Sim e contigo? Correu tudo bem?”
Tânia: Sim, está tudo ótimo e correu tudo bem. Olha mãe, mais alguém tem a chave da nossa casa?
Lurdes: “Não, porquê, falta alguma coisa?”
Tânia: Não, mas parece que algumas coisas foram trocadas de sitio…
Lurdes: “Hum… pode ser a empregada, a Mary. Acho que não lhe pedi a chave, como ela costuma ir ai limpar nas férias…”
Tânia: Pois, deve ter sido ela. Então, está tudo bem com o pai e com o mano?
Lurdes: “Sim, está tudo. Então e tu, como está Londres?”
Tânia: Ainda bem. Está melhor aqui comigo!
Lurdes: “Ainda bem. Olha, tenho que ir. Beijinhos filha!”
Menti á minha mãe, por um lado a mudança já não estava a correr muito bem, ser ameaça por um desconhecido não estava nos meus planos, queria só esclarecer as coisas, mas se queria que tudo melhorasse, tinha de vestir um fato de coragem e mergulhar num mar de perguntas sem respostas e, era isso que ia fazer.
Georgia: Então?!
Tânia: Talvez seja a empregada que a tenha.
Georgia: Ok, então vamos falar com ela.
Tânia: Sim, mas antes temos de ir ás compras que eu não tenho nada em casa.
Georgia: É claro que sim. Vamos a isso que eu sou perita nisso!
Tânia: Não me digas…
Ficou a olhar para mim com aquele olhar confuso, como se não quisesse perceber.
***
Tânia: Vou aquecer uma lasanha para o nosso almoço.
Fui-me afastando da sala de jantar onde estava-mos instaladas, dirigi-me até á cozinha e coloquei as lasanhas de aspeto delicioso no forno. Mesmo afastada da sala de jantar, ouvia a Georgia a reclamar.
Georgia: Isso engorda!
Tânia: Vê lá! Qualquer dia não cabes nas calças!
Georgia: Se me continuares a alimentar assim, não.
Tânia: O Danny continua a gostar de ti, não te preocupes.
Georgia: Sim, sim.
Tânia: Então, vais-me contar o que dizia a tua mensagem?
Georgia: Nem por isso…
Tânia: Porquê?
Georgia: Porque é um assunto muito pessoal.
Tânia: A minha também e eu contei-te!
Fui-me aproximando da sala de jantar com as lasanhas na mão e com os ouvidos bem abertos. O vapor que se libertava das lasanhas denunciava um cheiro muito apetitoso que rapidamente se espalhou pela sala e nos deixou de boca aberta.
Georgia: Hum, cheira tão bem! Há muito tempo que não comia uma lasanha!
Tânia: Não mudes de assunto!
Georgia: Esquece Tânia, não te vou contar, não agora, quando eu me sentir preparada para falar nesse assunto.
Tânia: É grave?
Georgia: Não, mas é muito pessoal, ninguém sabe e não gosto de falar nisso. Tenho que ser EU a resolver este assunto.
Tânia: Mas eu podia ajudar a resolver o que precisasses.
Georgia: Não, acredita que não.
Tânia: Ok, não vou insistir, mas se precisares é só falares comigo. (olhei para ela e estava com uma cara em baixo, aquele sorriso que a lasanha tinha provocado, rapidamente desapareceu, seja o que fosse o assunto da mensagem não era bom; já nem estava a comer, só brincava com a comida) Então vamos acabar de comer para resolver isto o mais rapidamente possível.
Georgia: Sabes onde vive a tua empregada?
Tânia: Sim, não é muito longe.
Acabámos de comer, colocámos os pratos sobre a mesa junto ás pequenas estatuas que a minha mãe tinha colocado para enfeitar a sala de jantar.
Saímos de casa e pegámos a estrada.
Georgia: Demora muito?
Tânia: Não, é aqui!
Georgia: Aqui?! Está casa aqui?!
Tânia: Sim, porquê? Conheces aqui alguém?
Georgia: Quem, eu?! Não, claro que não! (olhou em volta com um olhar preocupado, assim que ela olhava para mim e me via de desconfiada, lançava um pequeno sorriso de embaraço, mas pior ficou quando nos dirigimos para a entrada da casa)
Tânia: Estás bem?
Georgia: Sim. (rapidamente cortou a resposta para não haver mais perguntas para a qual ela, certamente, não queria responder) Como se chama a empregada?
Tânia: Mary.
Começamos por bater de leve na porta, mas ninguém abriu, deixamos a nossa curiosidade e ansiedade bater na porta com mais força, mas continuamos sem obter resposta do lado de dentro.
Georgia: Se calhar é melhor irmos embora.
Tânia: Não, querias tanto vir, o que se passa?
Georgia: Nada, é só que se calhar não está ninguém em casa e se alguém nos vê a bater com tanta força ainda pensam que vamos roubar.
Tânia: É hora de almoço, deve estar em casa.
Georgia: Se calhar enganamo-nos na casa.
Tânia: Não, quando eu era pequena e os meus pais iam passar o fim-de-semana fora, deixavam-me aqui. (olhei em volta para confirmar que não estávamos a ser vigiadas, lancei a mão à maçaneta e com um pequeno gesto do pulso abri a porta) Olha, está aberta!
Georgia: Vamos entrar assim?
Tânia: Anda lá! (puxei-a pelo braço bruscamente para ela entrar depressa para que não fossemos vistas) Dona Mary, posso?! É a Tânia!
Fomos deixando a porta entreaberta para trás e fomos percorrendo a casa chamando-a.
Georgia: Acho que não está cá ninguém.
Tânia: Cala-te. Dona Mary?! Dona Mary?! Vai por esse lado.
Georgia: Dona Mary?!
Tânia: Dona Mary?!
Cada vez nos íamos afastando mais, o som das nossas vozes já não se cruzavam. Percorremos a casa em bico dos pés para não fazer barulho.
Tânia: Dona Mary?! Dona Mary?! Dona Mary?!...
Georgia: Avó?!
Tânia: Que foi Georgia?! (percorri a casa num só passo seguindo a vós dela, encontrai-a de bruços, no chão, sobre a dona Mary)
Georgia: Está morta!

Tânia *

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Capítulo 1

I
1 de março de 2011 (parte 2)

Voltar atrás era impossível, já não valia a pena, agora era erguer a cabeça e continuar.
O avião já tinha aterrado no solo britânico, muito se tinha passado em Londres, mas era sempre bom estar em novos ares, sentir aquele clima típico de Inglaterra.
Olhei para todo o lado, para ver se via alguma cara conhecida, entre as pessoas que passavam de um lado para o outro, comecei a avistar um cabelo no ar que se sobressaia em relação aos outros, assim que as cabeças cobertas de cabelos negros começaram a afastar-se, avistei o Tom e a Giovanna, juntos de mãos dadas. Estava muito contente por eles os dois, noivaram, já se conhecem á muitos anos e, só ao fim de 7 anos de namoro é que decidiram dar o grande passo.
Aproximei-me deles para os abraçar, mas eles para brincar, ignoraram-me, fazendo que não me conheciam.
Tânia: Que saudades!
Tom: Eu conheço-te?
Giovanna: Quem é Tom?
Tânia: Olha, vão passear, que eu agora preciso de amigos e não de desconhecidos
Dito isto, colocaram um grande sorriso na cara e mergulharam entre as pessoas que passavam até me abraçarem, um abraço muito calorento, bem apertado e com um sabor a saudades.
Tom: Oh miúda, como estás? Estás tão linda!
Tânia: Obrigada Tom! Já estive melhor, mas o que foi mau vai ficar para trás.
Giovanna: É melhor, vieste para aqui para te divertir!
Tânia: O Danny? Pensava que era ele que me vinha buscar…
Tom: Sabes como é, passou a noite toda com a Georgia a passear, e hoje não se conseguiu levantar da cama.
Tânia: Pois, só podia! Então e o Dougie? Como é que ele está?
Tom: Já está melhor, vamos busca-lo dia 14 de março.
Enquanto falava-mos, a Giovanna deitava os olhos às miúdas que pasmavam a olhar para Tom que fervelhavam por dentro desejosas de um beijo nas faces, nessa altura, coradas.
Tânia: Tem calma Gio, são só fans.
Giovanna: Mas ele é meu e não delas!
Rimo-nos e começa-mos a abandonar o aeroporto de Londres, íamos almoçar em casa dos pais do Danny – a minha tia – e, como a viajem ainda era longa, deixa-mos o aeroporto sem olhar para trás.
***
Kathy: Olá minha linda!
A minha tia corria entre as pedras soltas da calçada que atravessa o jardim, num só passo, até me alcançar e me beijar a face rosada.
Tânia: Olá tia!
Kathy: Oh minha querida, estás tão linda! Dá cá dois beijinhos!
Estivemos naquele filme durante, que para mim pareceu, uns longos minutos, que eram assistimos, com risadas á mistura, pela minha prima e pelo meu tio, encostados à ombreira da porta. Entretanto foi a vez do meu tio e, só no fim das perguntas retóricas, dos beijos seguidos e das piadas sem piada, é que foi a vez da minha prima.
Vicky: Será que já a podem largar, para eu lhe dar um beijinho? (afastou-se da porta e aproximou-se de nós) Olá priminha linda!
Tânia: Olá vermelhinha! Que saudades! Estás cada vez melhor!
Vicky: Não estou nada! Ai ó páh, que saudades! (voltou-me a abraçar, e mais uma vez, e mais outra…)
Allan: Vamos indo para dentro. O Danny está a chegar.
Tinha saudades de sentir o cheiro da casa dos meus tios, que era bem diferentes da dos meus tios em Portugal. O meu olhar não parou até examinar todas as coisas novas que estavam em cima dos móveis, das coisas que tinham mudado até mesmo das pequenas partículas de pó que iam caindo e sobressaindo sobre a madeira escura do móvel da cozinha. Fomo-nos instalando na sala de jantar, mas fomos rapidamente incomodados pelo som da campainha velha.
Kathy: Deve ser o Danny e a Georgia.
Levantei-me para poder ser a primeira a abraçá-lo, de todos, ele era a pessoa de quem eu sentia mais falta.
Danny: Olá a todos, desculpem pela demora.
Tânia: Danny!
Danny: Tânia!
Corri até ele e, com um pequeno impulso saltei para o seu colo e, com a força das saudades, enrolei os meus braços ao seu pescoço descoberto.
Danny: Pequena! Estás boa? (tinha dificuldades em falar, já que eu continuava com os meus braços enrolados ao pescoço)
Tânia: Estou! Tinha tantas saudades tuas!
Danny: Também eu pequena!
Finalmente deixei os meus braços se desenrolarem e deslizei do seu colo, cumprimentei a Georgia com uma grande abraço e no fim de uma pequena conversa sobre o resto da família em Portugal, fomos comer.
***
Danny: Queres que te vá levar a casa?
Tânia: Pode ser, se calhar és tu que estás mais perto.
Tom: A minha irmã disse que depois passava por lá.
Tânia: Ah, ainda bem!
Acabámos todos por sair, entre beijos e abraços e, cada um seguiu o seu caminho.
No fim de uma longa viagem, com os olhos escondidos atrás dos óculos escuros, comecei a avistar as folhas secas da árvore que decorava o jardim da minha casa.
Tânia: Bom, parece que já estou entregue! Depois combinamos qualquer coisa.
Danny: Claro que sim e já sabes, se precisares de alguma coisa pede.
Georgia: Bom, Danny, já que tu agora vais ter com eles e eu não tenho nada para fazer, fico aqui com a Tânia.
Tânia: Sim, claro que ficas! Temos que pôr a conversa em dia!
Danny: Pois, estou a ver. (fez aquela cara de desconfiado e com um tom maroto continuou) Então saiam já do meu carro!
Tânia: Sim senhor!
Esperei que e a Georgia se despedisse dele e entrei na minha antiga casa, já não entrava lá à muito tempo, normalmente, quando ia pouco tempo a Londres ficava com o Danny, tornava-se muito mais divertido.
Conseguia sentir o cheiro do pó, a impressão de estar a entrar numa casa assombrada. Abri as janelas, tirei os plásticos do sofá que impediam de o pó pousar nos estofos deste e, finalmente sentei-me com a Georgia.
Tânia: Eu até te oferecia alguma coisa, mas não tenho nada.
Georgia: Não há problema.
Instalou-se um silêncio constrangedor entre nós, não cruzamos olhares, olhávamos em volta á procura de um tema de conversa.
Georgia: Como tudo muda…
Tânia: Para alguns…
Georgia: Mas tu vieste para aqui para melhorar, não podes pensar assim…
Tânia: Não estou só a falar de mim, há mais pessoas que sofreram com isto tudo!
Georgia: Mas não vale a pena falar nessas pessoas, prometemos nunca mais falar nela.
Tânia: E achas isso bem? Não falar nela? Assim nunca mais resolvemos isto!
Georgia: Mas resolver o quê?! Não há nada para resolver Tânia!
Tânia: Há sim e tu sabes disso!
Georgia: Não! Não vamos voltar ao passado, resolver uma coisa que não tem resolução!
Tânia: Tem sim! Descobrimos onde ela está!
Georgia: Não Tânia, não vamos voltar atrás.
Tânia: Não quer dizer que tenhamos de voltar a atrás, só temos de esclarecer tudo! Pensas que é fácil viver assim? Eu todos os dias penso naquela noite, tenho as imagens todas gravadas na minha cabeça!
Giovanna: Olá outra vez! Podemos entrar?!
Tânia: É claro! Carrie, olá! Que saudades miúda!
Carrie: Olá! Também tinha saudades tuas!
Abraçamo-nos e deixámo-nos estar assim durante uns longos segundos.
Georgia: Vocês conseguiram vir?!
Giovanna: Sim, os pais do Tom só vão embora perto da noite.
Carrie: Então, conta-me coisas!
Tânia: Oh, não há muito para contar. Tinhas saudades tuas! (voltei a abraçá-la)
Georgia: Não tens nada para contar?! Antes de elas chegarem tinhas muito para falar…
Giovanna: Que se passa Tânia?
Tânia: Nada que vocês possam resolver, pelos visto. (e dirigi o olhar para a Georgia)
Georgia: É claro que não podemos, não podemos desenterrar o passado, nem devia-mos estar a falar nisto, tínhamos prometido!
Giovanna: Porquê agora Tânia?
Tânia: Porque agora estamos todas juntas e será muito mais fácil acabar com isto, além disso, o que se passou não foi uma coisa qualquer, foi uma coisa séria!
Giovanna: Mas nós não podemos voltar atrás, se pudéssemos voltava-mos, mas não podemos.
Tânia: Mas podemos remediar, podemos mudar o que ainda se pode mudar!
Giovanna: Mas não podemos remediara nada.
Carrie: Eu também acho que podemos…
Georgia: Oh Carrie, tu também não!
Carrie: Eu também não o quê? Achas que é fácil ficar com aquelas imagens da minha cabeça? Enquanto vocês vieram correr para os braços dos namoradinhos que tive que aguentar sozinha e, bem pior foi a Tânia que teve que lá ficar passar á frente da casa como se não fosse nada!
Tânia: Exato. Pensão que é fácil?!
Giovanna: Mas não podemos fazer nada!
Georgia: Olhem, já nos estamos a precipitar, vamos mas é com calma. Já estamos todas de cabeça quente, foi um dia longo, vamos descansar e amanhã encontramo-nos para tomar o pequeno-almoço.
Giovanna: Sim é melhor. Tânia, descansa, que amanhã falamos melhor.
Não pude fazer mais nada se não concordar, despedi-me delas e fui até ao meu quarto. Este estava coberto de plásticos que escondiam as minhas fotografias empoeiradas, que ao fim ao cabo, acabavam por esconder as melhores recordações que eram retratadas com sorrisos nas imagens sujas. Mudar para Portugal nunca tinha estado nos meus planos, por isso, sabia que mais tarde ou mais cedo regressaria a Londres, mas nunca pensei que fosse por motivos tão fortes.
À medida que ia tirando os plásticos, sentia o pó a entrar pelo meu nariz e a causar-me vontade de tossir, passei a minha mão na cama ainda com a colcha de verão, sentia-me bem com as cores vivas da colcha, sentia que não tinha problemas e que podia fechar os olhos e, acordar sem ser acordada por um pesadelo, só queria que a minha mudança me fizesse bem, que não precisasse de fugir mais de mim própria.
Estava cansada, doía-me o corpo de todas as viagens que tinha feito num só dia, deitei-me na cama, fechei os olhos para tentar relaxar e, acabei por adormecer.
***
O meu coração batia a mil, a minha respiração estava bastante acelerada. Olhei para o relógio para ver as horas, eram 03:51h. Uma imagem desconhecida não me saia da cabeça, era uma criança linda, com uns longos cabelos dourados e com uns olhos azul brilhante.
Quando finalmente senti o coração a acalmar e a respirar sem precisar de ter a boca entreaberta, reparei que sobre a minha mesinha de cabeceira estava um fio. Com um leve movimento puxei-o para junto de mim, para conseguir reconhecê-lo. Estava escuro, mas o fio parecia velho e cheio de pó, mas assim que os meus olhos se habituaram ao escuro e olhei para o fio, um arrepio percorrei-me o corpo.
Tânia: Não é possível!
Nas minhas mãos tinha o fio que perdi na noite do acidente em Portugal, a noite que mudou as nossas vidas. Já não via aquele fio desde essa noite, ele desapareceu nessa noite, logo, alguém deveria tê-lo colocado lá. Olhei em volta para me certificar de que a janela estava fechada; para o exterior só via as folhas da árvore do jardim a baterem no vidro da janela com a força do vento e da chuva, era impossível alguém andar na rua com aquele tempo, deduzi que alguém o tivesse pôs-to anteriormente.
Os meus pensamentos foram interrompidos por uma mensagem no telemóvel, a luz forte do ecrã iluminou o teto do quarto. Era estranho receber uma mensagem aquelas horas da noite, ao princípio não liguei, mas comecei a ficar assustada e antes de pegar no telemóvel, mais um arrepio subiu-me pelo corpo.
Tânia *

sábado, 16 de junho de 2012

Capítulo 1

I
1 de Março de 2011 (parte 1)


Despedir-me da minha vida era complicado. Era como começar a viver de novo, começar tudo outra vez, fazer as mesmas conquistas, aceitar as mesmas derrotas, era como nascer de novo.
Tinha medo de que o meu passado me perseguisse, tinha medo de voltar a ter medo, mas tinha de ser, tinha de descer aquelas escadas e despedir-me dos meus pais e amigos.
Era estranho, sentia todos os passos que dava no meu coração, sentia que por um lado o que estava a fazer era fugir, era cobardia, mas já não tinha mais forças para continuar.

Lurdes: Porque demoras-te tanto?
Notava-se no olhar da minha mãe o medo infinito de perder a sua filha, de a deixar partir…
Tânia: Estive a despedir-me das minhas coisas…
Lurdes: Sabes que não precisas de ir embora.
Umas palavras tão simples da minha mãe e tão repetidas que me continuavam a magoar, já tínhamos falado muitas vezes sobre aquele assunto e sobre tudo o que me tinha acontecido, como era difícil para mim continuar naquele sitio, que mesmo custando para ela, era o melhor para mim.
Tânia: Não mãe! Eu tenho de ir. É o melhor para mim, tenta perceber isso, ajudaria muito!
Jorge: Chega Lurdes. Ela precisa de sair, de apanhar novos ares, conhecer gente nova, principalmente, gente que não conheça a sua história.
Lurdes: Não deixa de não custar. (dirigiu-se a mim, com aqueles grandes olhos azuis brilhantes que transbordavam de lágrimas á espera de um momento para se soltarem) Eu compreendo, sei que custa, mas eu sou tua mãe e vai-me custar sempre, as saudades vão ser muitas e tu não estás preparada para ir sozinha, podes-te ir abaixo, e depois, como é?
Tânia: Eu não estou sozinha, tenho o Danny e o resto dos rapazes.
Lurdes: E o Danny e o resto dos rapazes têm a banda e a sua própria vida.
Tânia: Mãe, não vale a pela, está decidido. Eu vou embora!
Todos nós, presentes naquela sala, fomos engolidos numa onda de silêncio que nos arrancou as palavras não nos deixando dizer mais nada. Ninguém teve coragem para cortar aquele momento, nem um único gesto, nem um piscar de olhos. O momento já se estava a prolongar cada vez mais, o meu pai ergueu os olhos e finalmente cortou o silêncio.
Jorge: Queres que te vá buscar as malas?
Acenei com a cabeça afirmativamente, olhei para a minha mãe que estava com o queixo encostado ao peito, não consegui olhar para a sua cara, nem ver a sua expressão, uma madeixa loira descai-a para a sua cara incomodando-lhe os olhos, mesmo assim não a tirou, nem olhou para mim.
Jorge: Vou levá-las para o carro. (passou por nós, carregado de malas e dirigiu-se para a saída)
A hora de partir estava a aproximar-se, finalmente ganhei coragem e cortei o silêncio que se instalou entre mim e a minha mãe. Aproximei-me dela e tirei-lhe a madeixa loira dos olhos.
Tânia: Eu sei que te custa mãe, mas acredita que custa mais a mim. Ficar aqui era impossível para mim, era como se ficasse a viver num pesadelo. (esperei que ela levantasse a cabeça e me dirigisse o olhar) Eu gosto muito de vocês e sei que vos custa muito a minha partida, mas por favor mãe, eu peço-te, deixa-me ir em paz, não fiques desiludida comigo, porque eu sei que é isso que tu agora sentes, eu não vou desistir de nada, vou continuar a viver!
Lurdes: Por um lado vais desistir, ou melhor, já desististe.
Tânia: Estás a ver mãe! E por isso que quero ir embora, tu e todos que me conhecem vão continuar assim com esses tipos de comentário.
Lurdes: Desculpa. Não queria dizer isto.
Tânia: Mas disseste, e por muito que não queiras vais acabar por dizer outra vez, tu e todos aqueles que, de uma maneira ou de outra, estão presos ao meu passado.
Lurdes: Ninguém está preso ao teu passado, as pessoas só se preocupam contigo.
Tânia: Preocupam? Eu não chamava a isto preocupação. Já viste os olhos com que me olham, não é de preocupação nenhuma!
Por muito que me custasse ter aquela conversa com a minha mãe, tinha de a ter, mesmo sendo fria a escolha de palavras, tinha de as dizer, tinha de dizer tudo antes de ir embora e ir de cabeça limpa.
Jorge: Estás pronta?
Olhei para a minha mãe, não sabia ao certo como me despedir dela, por minha sorte foi ela que me abraçou, mesmo com as lágrimas a formarem pequenos rios de diferentes direções na sua pele branca da face, consegui despedir-me dela.
Lurdes: Desculpa! Eu quero que tu sejas feliz, e se aqui não estás então sai, deixa o passado enterrado e luta por um futuro melhor.
Tânia: Oh mãe, sabes como vai-me custar deixar-vos, mas tenho a certeza que vou ser mais feliz.
Limpei-lhe o pequeno rio que já tinha desaguado no pescoço, dei-lhe um beijo forte e calorento na bochecha. Olhei para ela mais uma vez e, saí.

Tânia *