sábado, 8 de dezembro de 2012

Capítulo 4


IV
4 de março de 2011 (parte 2)

Não me mexia, não pensava em nada. Estava paralisada. As outras raparigas já cruzavam olharas, mas eu não. Senti uma enorme vontade de chorar, de desistir de tudo, mas por outro lado sentia vontade de acabar com isto, ao fim ao cabo, não era só eu que estava a sofrer, tinha também de pensar nas raparigas.
Tânia: Ok, vamos manter a calma…
Vicky: Calma?! Alguém andou aqui dentro enquanto nós aqui estávamos, alguém matou a Mary, isto não é brincadeira!
Giovanna: Mas o que é que te vai servir estar assim, nervosa?!
Tânia: Oiçam. Todas nós já percebemos que isto não é nenhuma brincadeira de mau gosto, mas se nos enervarmos não vamos conseguir fazer nada e é isso que eles querem!
Georgia: E se fossemos falar disso para outro sítio?! Está aqui gente a mais na sala… (e dirigiu o olhar para a Sharon)
Carrie: Georgia, ela também foi ameaçada, tal como nós.
Georgia: E como é que sabes que ela não manda as mensagens para ela própria?!
Giovanna: Oh Georgia, poupa-nos!
Sharon: Parem! Parem e pensem por um minuto. Se alguém entrou aqui, entrou pela porta das traseiras, porque se fosse a da frente nós via-mos… então, Tânia, a Mary tinha que chave?!
Tânia: Hum… não tenho a certeza, mas acho que é a da frente.
Georgia: Então, o que quer que quisessem da minha avó não encontraram e por isso mataram-na.
Carrie: Ela já tinha visto quem era, quem andava a fazer isto.
Tânia: Estão a ver?! Agora mais calmas conseguimos trabalhar melhor.
Izzy: Bom, já é bem de dia. Acho que vou andando.
Giovanna: Sim, eu também. Anda Carrie.
Vicky: Beijos Tânia.
Giovanna: Tu ficas Georgia?!
Georgia: Sim. Depois vou com a Tânia ao funeral.
Tânia: Vai tomar um duche no meu quarto enquanto eu visto uma outra roupa.
Acabámo-nos de arranjar e saímos em direção ao meu carro. O tempo estava chuvoso, por isso fomos com umas capas de pelo preto para não passar-mos frio no cemitério.
Georgia: Vamos já direitas ao cemitério?
Tânia: Sim, mas temos de passar primeiro na florista.
***
Rebecca: Fico muito contente por teres vindo Georgia…
Georgia: Não ia faltar Rebecca…
Rebecca: Tânia, certo? (esperou que acenasse com a minha cabeça afirmativamente) A minha mãe trabalhava para ti, não era?!
Tânia: Sim.
Rebecca: Fico contente por terem aparecido, significa muito…
Georgia: Claro…
Rebeca, a filha da Dona Mary, começou a afastar-se de nós para saudar as outras pessoas. Não eram muitas, talvez pelo facto da Dona Mary ser uma pessoa reservada, parecia que a maior parte das pessoas que se encontravam de baixo dos chapéus-de-chuva junto à sua campa, eram familiares.
Tânia: Estás bem?
Georgia: Sim, só preciso que este dia acabe depressa.
Abracei-a para que ela não se sentisse sozinha. Mesmo com tudo o que se estava a passar, ela parecia estar razoavelmente calma. O tempo foi passando e deixamo-nos ficar para último.
Tânia: Vamos andando?! Está na hora de almoço…
Georgia: Sim, vai andando. Encontramo-nos do carro.
Obedeci às suas palavras e afastei-me dela em direcção ao carro, olhei várias vezes para trás e via a pequena figura alta e elegante da Georgia junto à campa da sua avó. Não sabia o que fazer para que ela deixasse de se sentir culpada, precisava de fazer alguma coisa para que ela acreditasse que não teve culpa de nada.
Coloquei a mão na mala assim que ouvi o som do telemóvel a suar perdido na mala.
Danny: “Até que em fim que alguém me atende! Porra! Tive a manha toda a tentar falar com uma de vocês e ninguém me atendeu! Estão de ressaca é??”
A voz irritada e zangada do Danny entrou-me rapidamente à cabeça sem me dar tempo de arranjar uma desculpa adequada.
Danny: “Onde estás? E onde está a Georgia?”
Tânia: Calma… ela está comigo.
Danny: “E está contigo onde?”
Tânia: É melhor ser ela a explicar-te…
Danny: “Explicar-me o quê? Que se passa? Ela está bem?”
Tânia: Sim. Olha, nós vamos almoçar em minha casa, passa por lá e almoças connosco.
Danny: Ok. Estou a ir.
Olhei para a Georgia e só via a sua figura muito desfocada acenei-lhe para que ela regressasse para junto de mim.
Tânia: O Danny ligou.
Georgia: Que lhe disseste?
Tânia: Nada. Que era melhor seres tu a contar. Ela vai almoçar connosco.
Georgia: Tu o quê? Eu não quero falar com ele!
Tânia: Porquê? Ele é o teu namorado!
Georgia: Não me apetece falar com ninguém! Leva-me para casa.
Tânia: Vai então só almoçar à minha casa…
Georgia: Mas não quero demorar. Se não me cruzar com ele melhor.
Entrou no carro e fechou a porta com força, mostrou o seu lado frio, naquele momento percebi que a menina simpática deixou de existir e tão rapidamente não ia voltar. Parecia que a sua calma de repente tinha desaparecido, parecia uma nova e fria, Georgia.
Fizemos uma viagem em silêncio, nem a música alegre que tocava no rádio nos fez descontrair, os nossos olhos ou pairavam na estrada ou focavam as pessoas nos passeios a fugir da chuva, nunca trocámos olhares até à chegada.
Georgia: Aquele é o carro do Danny. Deixa-me aqui, eu vou a pé.
Tânia: Não Georgia! Deixa de ser assim e enfrenta-o!
Saiu do carro e voltou a fechar a porta, mas desta vez ainda com mais força.
Fui entrando e já os encontrei os dois sentados na sala em silêncio. Subi as escadas para os deixar mais à vontade e fui até ao meu quarto. Deitei-me na cama e comecei a pensar em tudo o que se estava a pensar, tentava concentrar-me nos pormenores, mas estava-se a tornar cada vez mais difícil porque não deixava de pensar o que se estaria a passar com a Georgia para ela tratar assim o Danny. Voltei a tentar concentrar-me mas fui interrompida por um bater forte da porta. Esperei um pouco e não conseguia ouvir nada, resolvi descer as escadas. À medida que colocava um pé no degrau o meu coração saltava, estava ansiosa para saber quem tinha ficado em silêncio na minha sala. Finalmente, quando acabei de descer dirigi-me à sala e encontrei o Danny em pé junto à janela, estava tão paralisado que nem deu pela minha presença.
Tânia: Danny, estás bem?
 
Como de esperar, não obtive resposta. Aproximei-me calmamente dele e coloquei a minha mão sobre o seu ombro.
Tânia: Danny… fala para mim… que aconteceu?
Umas pequenas palavras começaram a sair da sua boca em forma de soluços. Esperei até compreender melhor.
Danny: Acabou.

Tânia *